Foto: ABr/Arquivo |
Hoje, 19 de abril, Dia do Índio. Mais que festa, o dia merece
uma reflexão.
A realidade dos povos indígenas ainda é algo surreal para
mim, confesso. Por mais que eu conheça suas lutas, leia a respeito de sua
cultura e conviva com alguns deles bem de perto, já que moramos tão próximos de
uma terra Guarani, ainda assim não me sinto em condições sequer de redigir um
artigo a respeito deles ou desta data comemorativa.
Tento pensar sobre como encará-los. Hoje, andando pela
cidade, encontrei vários deles. Muitos vieram de fora para participar de um
Festival que vem sendo realizado aqui há 10 anos. E que, apesar das polêmicas
que gera entre os moradores, tem meu total apoio. Primeiro porque é uma manifestação
cultural, como pouco se vê por aqui. E segundo porque acho incrível, mesmo
parecendo ser extremamente igual de um ano para outro. A energia deles é
realmente diferente. Sentar ao lado deles, ouvir histórias, fazer pinturas pelo
corpo. Tudo isso é uma oportunidade rara. Uma chance de conhecer um pouco mais
sobre essa cultura milenar que, aos poucos, vai perdendo sua força diante da
brutalidade de um mundo capitalista que engole tudo que vê pela frente.
Esse ambiente festivo, porém, só nos deixa ver a ‘beleza’ do
ser índio. Meio que reforça aquela ideia que carregamos desde pequenos sobre
andar pelados, pescar no rio e viver em harmonia com a natureza.
Só que enquanto isso, lá em Brasília, centenas de indígenas se
unem para protestar. Em clima de guerra – e de guerra eles entendem bem - tentam
lembrar aos nossos governantes que eles existem e que têm direitos sobre a
terra em que vivem.
Pois é, eles também existem nos outros dias do ano. E quem
se lembra disso? Quem se lembra que nos outros 364 dias do ano dezenas de
índios ainda são mortos pelo Brasil afora por madeireiros e donos de gado?
Assim como ‘ser sustentável’ virou modinha, gostar de índio
também. Puro modismo. Prova disso é que, no mundo real, as pessoas batem palmas
a projetos ‘desenvolvimentistas’ e estão pouco se importando se os grandes
empreendimentos impactam diretamente as terras indígenas ou reservas naturais.
Se no passado eram os estrangeiros os algozes temidos, hoje são os próprios
brasileiros, descendentes de uma cultura exterminadora, que só dá valor ao que
trás lucro. Fora 19 de abril, todos os outros são dias de não-índios.
Será que é tão difícil perceber que o valor do Brasil está
exatamente ligado às suas reservas naturais. Que nosso diferencial entre os
países que buscam os primeiros lugares na economia mundial é termos a maior
floresta tropical do Planeta em nosso território? E que os indígenas são
fundamentais na luta ambiental?
Voltando à minha pequena reflexão sobre o dia do índio, ainda
sem coragem para encará-los, penso que vou conversar com minhas filhas sobre da
data. Falar sobre gente e natureza. Respeito e dignidade. Vai ser minha forma
de comemorar do Dia do Índio.
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